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Jejum, câncer, tratamento de desordens hormonais e metabólicas

andreaalterio

Atualizado: 30 de set. de 2024



jejum

[contos de consultório]


Tão importante quanto o que comer é o que não comer: Batalha entre jejum e a doença


Enquanto olhava a chuva caindo lá fora, me lembrei de um caso...já se passaram 3 anos, mas ainda me lembro daquele dia cinzento. 

 

Era bem cedo e a garoa fina deixava o dia de verão com um ar melancólico, sentimento que eu brevemente experimentaria, horas depois em um debate para o qual estava indo.

 

Não era parte da equipe multiprofissional fixa do hospital, havia sido convidada à pedido de um jovem médico e iria integrar a discussão de um caso clássico de câncer gástrico. 

 

Fora chamada não para discutir protocolos da radioterapia à que aquele homem seria submetido, mas para trazer uma nova proposta, que eu defendia firmemente em consultório e bem embasada em ciência.

 

A ideia era ousar com os princípios fundamentais da radioterapia (a geração de radicais livres por interação com as moléculas de água) e, usar o controverso princípio da restrição calórica, que tem mostrado induzir mudanças nos caminho bioquímicos celulares, melhorando a radio-sensibilidade das células tumorais.

 

Que o carboidrato é fonte alimentar primordial da célula neoplásica e, portanto, deve ter consumo limitado, já é bem conhecido e aceito na comunidade acadêmica, mas a idéia de induzir uma restrição severa (ou até cetogênica), baseando–se numa dieta de hidratação em um paciente de câncer, ainda precisava ser vendida, para isso eu estava lá.

 

Já tinha explicado todos os possíveis caminhos bioquímicos envolvendo a tumorigênese1 e angiogênese2 versus a aplicação da nutrição. 

 

Mostrava diversos estudos a todos na sala, aparentemente bem atentos e interessados, quando iria iniciar minha proposta dietética percebo um rápida mudança de comportamento, alguém sugerira ao fundo… “lá vem uma ideia mirabolante”.

 

Baixei a cabeça brevemente para suspirar…a falta de profissionalismo era notória, aquele desânimo que se assemelhava ao dia cinzento, bateu à minha porta. Não queria acreditar que ainda seria obrigada a me deparar com aquele tipo de situação numa equipe de saúde.

 

Respirei fundo... mesmo fundamentada, minha proposta àquele caso parecia ter perdido a graça. E, no momento em que levantei o olhar, preparada para continuar, me deparei com ninguém menos que o nosso paciente, o único em pé (embora com dificuldade e cansaço evidentes) ao fundo da sala e com olhar fixo em mim, aguardando que eu o enxergasse para me pedir: “Por favor doutora, continue! Como diria “Ray”: O que seu médico não sabe sobre medicina nutricional pode estar matando você. Eu quero ouvir sua proposta.”

 

O que ele havia citado era o título de um interessante livro de Ray Strand MD que eu um dia lhe havia sugerido a leitura. Estava dito, não precisaria falar muito mais... Minha ideia do ‘novo’, já tinha sido endossada. Afinal, ninguém menos que o paciente queria tentar um plano complementar àquele tratamento tradicional proposto por seu oncologista.

 

Brevemente propus a base da dieta. A restrição calórica seria imposta no dia a dia, por 2 meses de preparo, para minimizar o aporte de nutrientes às células malignas. Dieta líquida seria a base para garantir o melhor aporte hídrico à radioterapia para apoio e eficiência do tratamento e, o jejum intermitente seria praticado durante a semana, proposto antes e após a radioterapia, ponto mais controverso daquele plano alimentar.

 

A “loucura” estava em submeter um paciente doente à restrição energética severa, clássico do paradoxo da nutrição, uma vez que basta nos adoentarmos que a primeira receita é: comer. 

Neste caso, eu queria o oposto.

 

Ele estava doente, mas era saudável, todos sabíamos disso. Sabemos que a restrição calórica de longo prazo pode resultar em perda de peso crônica, mas o jejum intermitente proposto antes e após cada tratamento de radioterapia poderia ser um método potencial para induzir a restrição energética celular evitando perda de peso significativa.

 

Esta seria uma estratégia nova e que só dependeria da aprovação médico-paciente, estaríamos a postos para emergências, poderíamos arriscar, afinal como diria M. Gandhi: “Nunca se sabe os resultados que virão da sua ação, mas se não fizer nada, não existirão resultados.”

 

Assim, ganhei ambos. E, aquele que antes havia suspirado com desdém se retirou da sala pensativo...

Naquele mesmo dia conversamos e a dieta foi reajustada a valores mínimos, embora suficientes, a hidratação fundamental para a radioterapia tinha como base a medicina chinesa e fitoterapia, inundaríamos o paciente com fitoquímicos antioxidantes e anti-inflamatórios que melhorariam ainda mais o ambiente interno para evitar a progressão do câncer e equilibrar os danos e reparo celular imposto pela radioterapia. 

 

O jejum intermitente seria praticado diariamente com restrição por pelo menos 14h e por até 24h antes e após cada ciclo de tratamento, associada à progressão diária. 

 

Seria difícil, sabíamos disso, mas deveríamos tentar. Associar novas práticas às tradicionais, principalmente quando estas falham, como estava acontecendo naquele caso, seria a chave para a mudança de comportamento emocional do paciente e o que eu estava propondo era uma nova ajuda, difícil, porém existia alguma.

 

Confortado com novas expectativas, paciente e família depositaram toda a confiança nesta nova etapa e, na minha opinião, esta foi a verdadeira causa da melhora significativa nas fases seguintes do tratamento. 

 

Claramente que defendo as pautas nutricionais do caso, mas o frescor e confiança psicoemocionais evidentes foram fundamentais para melhora dele.

 

Diversas dificuldades tiveram de ser superadas, desde a adesão propriamente à dieta (não é nada fácil, tão pouco simples, praticar a restrição e o jejum), aos cálculos individualizados em cada fase do tratamento, receitas com sabor duvidoso embora saudáveis e manejo dos sintomas adversos. Contudo, num balanço geral, ele topava com o ânimo de um lutador. 

 

Como recompensa sua progressão foi potencialmente maior que no tratamento anterior e ali estava a nossa diferença.

Mas esta era uma estratégia pontual, seu seguimento precisaria ser acompanhado e neste ínterim sugeri sairmos do pensamento convencional e lutarmos na direção metafísica.

 

Como ele se sentia super bem, seguimos a nutrição ampliada – da convencional à dieto chinesa – nutrientes e alimentos com foco no equilíbrio dos elementos via ajustando seus alimentos passo a passo a cada nova constatação de desequilíbrio corpo-mente-emoção e, por isso nossos acompanhamentos eram frequente e mensais.

 

Vale ressaltar que esta conduta tão próxima, minuciosa e personalizada, só poderia ser praticada por uma pessoa que se percebesse, que tivesse consciência de seus sintomas e emoções e neste ponto associamos a psicoterapia (psicanalítica), assim olhávamos para o ser humano de forma global em seus enfrentamentos químicos, energéticos e emocionais.

 

Hoje, já era o terceiro ano de remissão e lá estava ele, sentado na recepção, muito carismático e, com discurso eloquente garimpava seguidores para a prática da nutrição ampliada corpo-mente, complementar ao tratamento oncológico. 

 

Sua saúde transbordava entusiasmo, em nada lembrava aquele homem em pé no fundo da sala de conferencia, com a aparência cansada e abatida do dia do debate.

 

Ele, agora, retornava anualmente, só para me lembrar que aquela pequena parte do seu tratamento havia feito muita diferença para ele, reafirmando Santa Madre Teresa de Calcutá: “Sei que meu trabalho é uma gota no oceano, mas sem ele, o oceano seria menor.”

 

1 Tumorigênese é a formação ou produção de tumores.

2 Angiogênese é a formação de novos vasos sanguíneos.

 

Aproveitando o assunto, lhe convido a conhecer o Livro digital (Ebook) onde irá aprender tudo o que precisa para a prática do Jejum! Não perca a oportunidade – peça informações!! 

 

 

 

Dra. Andrea Alterio é nutricionista – psicanalista e homeopata, especialista em nutrição clínica – funcional (e mais 7 especializações – dentre elas Oncologia), com mestrado em nutrição humana e comportamental, psicanálise clínica e homeopata. Possui formações no Brasil e Itália em práticas integrativas em saúde.

Para contratar envie uma mensagem: contato

 

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